A condição da “verdade” do sujeito indígena após o relatório final da Comissão Nacional da Verdade
DOI:
https://doi.org/10.5281/zenodo.15692879Palavras-chave:
Comissão Nacional da Verdade, Povos Indígenas, Biopolítica, ResistênciaResumo
Este estudo apresenta os resultados da pesquisa sobre os significados da "verdade" produzidos por ocasião dos trabalhos da Comissão Nacional da Verdade (CNV) e seu Relatório Final, com especial interesse para os efeitos sobre os povos indígenas. Procuro descrever a atuação de resistência de colegiados, pesquisadores e os povos indígenas em resposta às recomendações da CNV, após esta completar dez anos, novembro de 2024. Tenho em foco os problemas que as ações da CNV suscitaram para o reconhecimento e garantias de povos vitimizados de abusos estatais autoritários, assim preconizando a promoção de direitos de transição. Faço uma análise à luz de conceitos de biopolítica e de uma etnografia de documentos, sobre a produção de um discurso estatal da CNV para a pretensão de reparação por meio de revelação de uma "verdade" nacional usada para uma suposta reconciliação nacional. Tal reflexão de uma preterida "verdade" é dialogada e interpretada com os entendimentos teóricos de Michel Foucault, com ressonância na crítica produzida sobre o Relatório Final, na memória e no testemunho como foco na produção dos sujeitos assujeitados.
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