A cultura e o fascismo
DOI:
https://doi.org/10.5281/zenodo.8356357Schlagwörter:
Cultura, Fascismo, IntelectuaisAbstract
Ensaio que enfrenta principalmente as relações entre fascismo e cultura acadêmica, analisando o papel das instituições culturais, dos intelectuais de renome e politicamente influentes, de revistas acadêmicas e militantes.
Literaturhinweise
Extraído de Fascismo e società italiana. [Fascismo e Sociedade italiana]. Org. Guido Quazza. Einaudi. Tradução: Gesualdo Maffia. Revisão: Erica Salatini, docente UFBA, coordenadora do grupo de pesquisa PLIT-ILUFBA.
FORGES DAVANZATI, R. Fascismo e cultura. Florença, 1926, pp. 5-6.
O discurso de Martinetti, publicado um ano depois da sua morte (que aconteceu em 22 de março de 1943), em um número semi-clandestino da “Rivista di filosofia” [Revista de Filosofia], lançada em 1944, com o título I congressi filosofici e la funzione sociale e religiosa della filosofia [Os congressos filosóficos e a função social e religiosa da filosofia], IN: “Rivista di filosofia”, XXXV, 1944, pp. 101-8, com uma nota de redação que apresenta a ocasião em que foi pronunciado.
FORGES DAVANZATI, p. 8.
Ib., p. 17.
Ib., p. 37.
GENTILE, Giovanni. Il congresso filosofico di Milano [O congresso filosófico de Milão] (1926). IN: Fascismo e cultura, Milão, 1928, p. 106. Não ficou para trás nem o discípulo e colaborador de Gentile, C. Licitra, que não renunciou a inferir contra o congresso mais ou menos com os mesmos argumentos: “Não se escandalizem alguns dos nossos amigos, se afirmamos que aqui também a ação fascista corresponde plenamente à filosofia italiana de hoje e que o santo coice fascista varre os simulacros quebrados pelas pauladas fascistíssimas que o nosso idealismo vai dando há mais de vinte anos. A caneta agora já era inútil, era necessário o santo coice”. Em relação a De Sarlo, ele era naturalmente “uma velha múmia do mais velho psicologismo”. (La filosofia dei congressisti di Milano. [A filosofia dos congressistas de Milão] IN: “Educazione politica” [Educação política], IV, 1926, fasc. I, pp. 187-88).
Entre a composição deste meu escrito e a publicação apareceu o amplo ensaio de G. TURI. Il progetto dell’enciclopedia italiana: l’organizzazione del consenso fra gl’intellettuali. [O projeto da enciclopédia italiana: a organização do consenso entre os intelectuais]. IN: “Studi storici” [Estudos Históricos], XIII, 1972, pp. 93-152.
OJETTI, U. A Sua Eccellenza Benito Mussolini. [Sua excelência Benito Mussolini]. IN: “Pegaso”, I, 1929, p. 89. Quase em todos os números da revista, uma carta aberta de Ojetti a este ou àquele personagem oficial mantém claramente a função de para-raios. De resto, a revista, que havia tomado a tarefa de desprovincianizar a cultura italiana, tinha uma característica intencionalmente cosmopolita.
SOLARI, P. Estetica razzista. [Estética racista]. IN: “Pan”, II, 1934, n. 1, p. 267.
Publicada também no “Giornale critico della filosofia italiana”[ jornal crítico da filosofia italiana], X, 1929, pp. 161-70, depois publicada no volume Introduzione alla filosofia [Introdução à filosofia]. Milão-Roma, 1933, com o título Lo Stato e la filosofia [O estado e a filosofia], pp. 174-88.
Eia, Eia, Eia, Alalà. La stampa italiana sotto il fascismo 1919-1943. [Eia, Eia, Eia, Alalà. A impressa italiana sob o fascismo1919-1943]. Antologia organizada por Oreste Del Buono, com prefácio de N. Tranfaglia, Milão, 1971. No prefácio, Tranfaglia distingue duas interpretações atuais sobre a relação entre intelectuais e fascismo: uma, segundo a qual o fascismo teria sido, em relação à cultura italiana, um fenômeno epidérmico; e a oposta, que explicaria tudo com a traição dos intelectuais. E considera que as duas estejam erradas. Eu, pelo contrário, acredito que, não sendo totalmente incompatíveis (a “traição” não constitui uma “nova cultura”), as duas estejam corretas. Justamente pelo fato que a maioria dos intelectuais que ostentaram o seu fascismo eram “traidores” e sabiam que o eram (melhor “vermelho” que “morto”), a cultura tradicional foi pouco ou quase nada afetada por isso. Continuo acreditando na tese, a que se refere Tranfaglia, da continuidade entre pré-fascismo e fascismo, entre fascismo e pós-fascismo, e portanto, continuo trazendo argumentos para a velha tese da continuidade entre pré-fascismo e pós-fascismo através ou durante o fascismo.
ACCETTO, T. Della dissimulazione onesta. IN: Politici e moralisti del Seicento, organizado por B. Croce, na coleção “Scrittori d’Italia”, Bari, 1930, p. 151. (Trad. Bras: ACCETTO, Torquato. Da dissimulação honesta. Trad. Edmir Missio. São Paulo: Martins Fontes, 2001. p.19).
CANTOMORI, D. Eretici italiani del Cinquecento. Ricerche storiche. Florença, 1939, p. 70.
BONSANTI, A. La cultura degli anni trenta: dai littoriali all’antifascismo. [A cultura dos anos de 1930: dos littoriali ao antifascismo] IN: “Terzo programma, [Terceiro programa] n. 4, 1963, p. 188.”
No n. 1 (1927), antes do proêmio intitulado Continuando, assinado “A direção”, mas escrito por Gentile, é reproduzida uma carta de Mussolini que começa com as seguintes palavras: “Por minha vontade, esta revista muda o seu título [...]. A mudança não é puramente formal. Ela é ditada por uma necessidade fundamental do Fascismo: a necessidade totalitária e integral. A educação política é uma parte, a educação fascista é o todo que compreende essa parte e, ao mesmo tempo, a ilumina”.
GENTILE, G. Le origini della filosofia contemporanea in Italia. I neokantiani (1911). [As origen da filofofia contemporânea na Itália. Os neo-kantianos] Agora IN: ID. Storia della filosofia italiana. [História da filosofia italiana] E. Garin (org.), Florença, 1969, vol. II, p. 502.
ID. Il nostro programma. [O nosso programa]. IN: “Educazione fascista” [Educação fascista], V, 1927, p. 260.
BOBBIO, N. Una filosofia militante. Studi su Carlo Cattaneo. [Uma filosofia militante. Estudos sobre Carlo Cattaneo]. Turim, 1971, p. 204.
MATURI, W. Interpretazioni del Risorgimento. [Interpretações do Ressurgimento]. Turim, 1962, p. 557.
CANTIMORI, D. Una storia del socialismo.[Uma história do socialismo]. IN: “Società” [Sociedade], I, 1946, pp. 246-60; agora IN. Studi di storia [Estudos de História].Turim, 1959, pp. 253-75, do qual cito. A passagem citada se encontra na p. 255. A respeito da “camuflagem”, Cantimori, historiador dos movimentos heréticos, escreve: “A história da literatura religiosa e política conhece, faz um longo tempo, estas constelações, cujos elementos principais são, de um lado, controle preventivo, repressão, censura, intervenção do censor; do outro lado, truques e subterfúgios de todos os gêneros, dolorosos por que degradantes, mas não julgáveis de forma moralista” (p. 256).
Refere-se à constituição monárquica italiana, o Estatuto Albertino. [Nota do tradutor].
Quem quiser ler hoje uma história crítica do direito constitucional fascista, deverá utilizar a obra de dois estudiosos antifascistas exilados: TRENTIN, S. Les transformations récentes du droit public italien. Paris, 1929, e FERRARI, F. L. Le régime fasciste italien, Bruxelles, 1928.
LOPEZ DE OÑATE, F. La certezza del diritto [A certeza do direito]. Roma, 1942; reimpresso por G. Astuti (org.), com prefácio de G. Capograssi, Roma, 1950. A passagem citada se encontra na p. 162.
Esta expressão é do próprio Spirito, e se encontra na introdução a Capitalismo e corporativismo. Florença, 1933, p. XIII: “Ficaria a terrível fórmula da corporação proprietária, a que gerou todo esse alvoroço. Então, vamos deixa-la de lado e não vamos pensar mais nela. Eu, por minha conta, pensei sobre isso até hoje e me convenci que, se aceitarmos todo o resto, a corporação proprietária pode até parecer ultrapassada”. Para uma crítica e uma avaliação do corporativismo de Spirito, cf. LANARO, S. Appunti sul fascismo di sinistra. La dottrina corporativa di Ugo Spirito. [Anotações sobre o fascismo de esquerda. A doutrina corporativa de Ugo Spirito]. IN: “Belfagor”, XXVI, 1971, pp. 577-99. Em geral, sobre o pensamento de Spirito, cf. NEGRI, ANTIMO. Dal corporativismo comunista all’umanesimo scientifico. Itinerario teoretico di Ugo Spirito. [Do corporativismo comunista ao humanismo científico. Itinerário teorético de Ugo Spirito]. Manduria, 1964.
Quando anunciaram a coleção (“Nuovi studi di diritto economia e politica” [Novos estudos de direito e economia política], VI, 1933, p. 379), foram indicadas como já em preparação obras de Marx e Engels, Locke, Rousseau, Montesquieu, Saint-Simon, Bentham, Hegel, Mazzini, além de coletâneas de socialistas de estado, socialistas italianos, liberais italianos, liberais americanos.
SPIRITO, U. La vita come ricerca. Florença, 1937, p. 206.
FANELLI, G. A. Contra Gentiles. Mistificazioni dell’idealismo attuale nella rivoluzione fascista [Contra Gentiles. Mistificação do idealismo atual na revolução fascista]. Roma, 1933. IN: “Biblioteca del Secolo fascista” [Biblioteca do século fascista], Série II, n. 2. A definição do fascismo como “monarquia integral” se encontra na p. 177 e faz referência a um livro anterior do mesmo autor, Dalla insurrezione fascista alla monarchia integrale [Da insurreição fascista à monarquia integral], Roma, 1925.
FERRI, E. Mussolini Uomo di Stato. [Mussolini, homem de Estado] IN: “Mussolinia”. Biblioteca editora de propaganda fascista, dirigida por F. Paladino, n. 22, Mântua, 1927. A ideia central é que os grandes homens, entre os quais Mussolini, são como “acumuladores elétricos”, que “recolhem a eletricidade difusa, que está na atmosfera ao redor deles e que sem eles ficaria estéril, vaga, inapreensível” (p. 20). Confira uma crítica feroz, por exemplo, em “Educazione fascista” [Educação fascista], V, 1927, pp. 249-50.
GIANI, N. Civiltà fascista, civiltà dello spirito. [Civilização fascista, civilização do espírito]. IN: “Gerarchia” [Hierarquia], 1937, pp. 513-14.
ID. Perché siamo dei mistici. [Porque somos míticos] In: “Gerarchia”, 1940, pp. 155-56.
GENTILE, G. Il mio liberalismo. IN: “La nuova politica liberale”, I, 1923, p. 9. Este artigo foi publicado depois no volume GENTILE, G. Che cosa è il fascismo. Discorsi e polemiche [O que é o fascismo. Discursos e polemicas]. Florença, 1925, pp. 119-22. Esta ideia da continuidade entre liberalismo e fascismo foi, pelo menos no começo, uma ideia de professores. Assim ERCOLE, F. Per la nazione oltre la libertà: fascismo e liberalismo [Pela nação além da liberdade: fascismo e liberalismo] (1924): “O fascismo não é necessariamente antiliberal, como o liberalismo enquanto tal, não tem razão de ser necessariamente antifascista. São muitos os pontos de contato entre as duas tendências teóricas e práticas” (IN: Dal nazionalismo al fascismo. Saggi e discorsi. [Do nacionalismo ao fascismo. Ensaios e discursos]. Roma, 1928, p. 151). O fascismo não se opõe ao liberalismo, mas sim ao democratismo, fundado sobre o dogma da soberania popular.
“O fundamento vivo que consolida e dá força de persuasão e de ação àquelas ideias que têm realmente em Mussolini valor de princípios [...] não é um conceito que em si as segure e as consolide, mas sim uma fé que vai além dos nexos lógicos e que, apenas na ação, encontra o seu princípio de vitalidade e de coerência”. Ou então: “Nessa fé está toda a sua força, porque por meio dessa ele se eleva acima da sua própria cultura e se fortalece contra qualquer tentativa de crítica”. Ou ainda: “E nós estaremos com Mussolini, pela sua fé”. E por fim: “O Estado que nós entendemos e que para o qual o próprio Mussolini tende, é Estado essencialmente religioso e educador, em todas as ordens da sua vida” (LISITRA, C. Mussolini e noi. IN: “La nuova politica liberale”, I, 1923, pp 14 e 15).
Spirito publicou um artigo com esse título, Il corporativismo como liberalismo absoluto e socialismo absoluto [O corporativismo como liberalismo absoluto e socialismo]. IN: “Nuovi studi di diritto, economia e politica”[novos estudos de direito, economia e política], V, 1932, pp. 285-98; depois publicado no volume Capitalismo e corporativismo, op. cit., pp. 27-44.
MANACORDA, G. Il bolscevismo. Florença, 1940, p. 270. A mesma contraposição entre revoluções construtivas (a revolução francesa, o Ressurgimento, o nacional-socialismo e o fascismo) e revoluções negativas ou destrutivas (como a Comuna de Paris e a revolução bolchevique) em MAGGIORE, G. La politica, Bolonha, 1941, pp. 331 e s. Sobre a revolução russa: “Parece que uma maldição recai sobre essa revolução materialista, imoral, antirreligiosa, anti-romana, anti-europeia, anti-humana. Nascida do sangue, ela será cancelada pelo sangue” (p. 337).
“Revisionismo” foi definida a posição dos “apoiadores de Bottai”, em seguida a um artigo publicado em outubro de 1923 em “Crítica fascista” pelo próprio Bottai, Esame di coscienza [Exame de consciência] (agora IN: BOTTAI, G. Pagine di critica fascista [Páginas de crítica fascista], organizado por F. M. Pacces, Florença, 1941, pp. 275-82). Veja também Dichiarazioni sul revisionismo [Declarações sobre o revisionismo] (julho 1925), ib., pp. 375-81, e Il revisionismo: postilla polemica [O revisionismo: pós-escrito polêmico] (fevereiro 1925), ib., pp. 402-8.
CARLI, M. Fascismo intransigente. Contributo alla fondazione di un regime. [Fascismo intransigente. Contribuição à fundação de um regime] Prefácio do honorável deputado R. Farinacci, Florença, 1926. Trata-se de uma coletânea de artigos da revista “Império”. As citações são tomadas do artigo Il Manifesto dei professori [O manifesto dos professores], pp. 45, 48 e 49.
Dos quais o próprio Carli escreve: “por trás dos óculos do professor que examina e julga existe sempre – digo sempre – o tolo cretino, predestinado a tomar, por cada afirmação doutrinal, formidáveis tapas, desmentidas pela realidade” (Fascismo intransigente, cit., p. 49).
NASTI, A. Piagnoni della cultura. IN: “Critica fascista”, XV, 1936, p. 98.
MUSSOLINI, B. Scritti e discorsi. [Escritos e discursos]. Vol. VII, Milão, 1934, p. 159.
Para informações detalhadas sobre este argumento cf. CANNISTRARO, F. V. Burocrazia e politica culturale nello Stato fascista: il Ministero della Cultura Popolare. [Burocracia e política cultural no Estado fascista: o Ministério da Cultura Popular]. IN: “Storia contemporanea” [História contemporânea], I, 1970, n. 2, pp. 273-98.
Retiro essa citação do artigo de CANNISTRARO. Burocrazia e politica culturale, [Burocracia e política cultural] cit., p. 291.
BOTTAI, G. Appunti sulla letteratura corporativa nel 1933-34. [Anotações sobre a literatura corporativa em 1933-34]. IN: “Civiltà fascista”[Civilização fascista], n. 2, 1935, pp. 711 e 715.
“Civiltà fascista”, n. 2, 1935, p. 720.
Retomo o tema tratado com maior amplitude no artigo Cultura e costume fra il ’35 e il ’40 [Cultura e costume entre 1935 e 1940], que faz parte do volume Trent’anni di storia politica italiana (1915-1945), [Trinta anos de história política italiana] publicado em “Terzo programma”[Terceiro programa], n. 2, 1962, pp. 280-92.
Sobre este argumento temos agora uma pesquisa detalhada: FERNANDEZ, D. Il mito dell’America negli intellettuali italiani dal 1930 al 1950 [O mito da América nos intelectuais italianos de 1930 a 1950]. Caltanissetta-Roma, 1969.
É desnecessário relembrar, sobre a história da filosofia italiana, o conhecido e insuperável livro de GARIN, E. Cronache di filosofia italiana [Crônicas de filosofia italiana]. Bari, 1955.
Cf. BRAVO, G. M. Marx e Engels in lingua italiana, 1848-1960 [Marx e Engels em língua italiana]. Milão, 1962.
Em uma resenha na “Critica”, XXVI, 1928, pp. 459-60, depois em Nuove pagine sparse [Novas páginas esparsas]. Nápoles, 1949, p. 180.
CAPOGRASSI, G. Le glosse di Marx e Hegel [As glosas de Marx e Engeles], em Studi in onore di G. Del Vecchio [Estudos em homenagem a G. Del Vecchio]. Módena, vol. I, pp. 54-71; depois in ID. Opere [Obras], vol. IV, Milão, 1959, pp. 45-69.
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